E a Caipirinha quem diria, foi parar na piauí

Tarsila devora a América - ISTOÉ Independente

Acabei indo atrás de curadores, colecionadores, marchands, economistas e especialistas para dar um contexto a essa história da tela da Tarsila e o momento do mercado de artes. É tentador esticar o assunto, falar sobre a valorização crescente da artista enquanto outros brasileiros de qualidade e dessa época continuam fora do radar dos compradores; discutir qual o papel da Caipirinha na história do modernismo e comparar Tarsila com Anita Malfatti; dissertar sobre o uso de obras para lavagem de dinheiro (nem sempre tem o alcance que se imagina, mas daria outra matéria, isso).

Ficamos, por enquanto, por aqui:

“Assim que eu bater, a obra vai ser vendida por 57 milhões e 500 mil reais para a ficha um”, disse o presidente da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, Jones Bergamin. “Dou-lhe uma, dou duas, dou três e… Decidido: para a ficha um.” E bateu com força os nós dos dedos da mão direita na mesa de madeira, cerca de 13 minutos após o início da disputa. Mesmo sem ter recorrido ao tradicional martelo de leiloeiro, o golpe de Bergamin ecoou forte pelo salão quase vazio da bolsa, em Ipanema. Ao som da batida, a tela Caipirinha, de Tarsila do Amaral, alcançou o valor mais alto já obtido por uma obra de arte vendida no Brasil.

O quadro pertencia ao empresário Salim Taufic Schahin, dono do grupo Schahin, que teve sua falência decretada em 2018, em decorrência de denúncias de corrupção feitas durante a Operação Lava Jato. Por isso, antes do início do leilão no dia 17 de dezembro, houve a leitura da decisão judicial que determinou a venda para ressarcir os credores do grupo. O comprador, identificado apenas como “ficha um”, permanece anônimo. Alguns sites da Bahia publicaram que pessoas da elite soteropolitana estavam atribuindo a compra a um empresário do estado. “Era brincadeira. Baiano, só se for algum que more em São Paulo, porque baiano conhecido, morador daqui, acho impossível”, garante o galerista Paulo Darzé, dono de uma galeria em Salvador e um dos mais ativos marchands no Nordeste.

O crítico e curador Tadeu Chiarelli considera a tela Caipirinha, pintada em 1923, a mais bem-sucedida das primeiras tentativas de fazer uma junção dos temas e formas do modernismo brasileiro com as experiências do cubismo europeu. O quadro é também um dos raros da artista pintados na década de 1920, o que ajuda a explicar o recorde obtido no leilão, além do fato de Tarsila do Amaral ser, atualmente, uma das artistas brasileiras mais valorizadas no país e no exterior. Em 1995, num leilão da Christie’s, em Nova York, o quadro Abaporu (1928) foi adquirido por 1,4 milhão de dólares pelo empresário argentino Eduardo Constantini. Hoje, é uma das obras em destaque no Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), fundado por Constantini, e calcula-se que seu valor se avizinhe dos 100 milhões de dólares.

Há dois anos, o MoMA (Museu de Arte Moderna), de Nova York, já havia fixado um recorde para os trabalhos de Tarsila, ao comprar – de Fanny Feffer, da família controladora da Suzano Celulose – A Lua (1928), obra do período antropofágico da artista. A transação envolveu um valor mantido em sigilo, que os especialistas estimam entre 18 milhões e 20 milhões de dólares. As atenções internacionais têm se voltado para artistas não europeus, como Tarsila, devido ao crescente esforço dos museus para ampliar a diversidade (geográfica e de gênero) de suas coleções e à influência exercida neles por mecenas da América Latina, que patrocinam a compra dos trabalhos, como a bilionária venezuelana Patricia Phelps de Cisneros, que doou mais de uma centena de obras de sua coleção latino-americana ao MoMA.

O leilão de Caipirinha foi visto sem euforia por profissionais do mercado de arte, que o consideraram um episódio muito particular de um ano no qual vários marchands e artistas foram assombrados pela recessão. “Os recordes em leilões, as operações de grande visibilidade, midiáticas, são a exceção; não refletem a dinâmica do mercado, composto por centenas de milhares de operações que, de fato, sustentam os negócios”, diz à piauí a gestora cultural e professora de arte Ana Letícia Fialho, que coordenou entre setembro e outubro uma pesquisa sobre o mercado de arte no Brasil, na Argentina, no Chile e na Colômbia.

O restante da história, nesse link AQUI.

Sobre sergioleo

Escritor, Jornalista, artista plástico
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